LUTAR E PERDER? - A FORÇA DE UM HERÓI
Quem luta com Deus e ganha, sempre perde. Assim é como eu interpreto algumas histórias de homens que lutaram com Deus.
A saga mais conhecida quando se fala neste assunto é a de Jacó que lutou com Deus como um príncipe e venceu, tanto que seu nome de enganador (Jacó), passou a ser Israel.
Mas o que escapa da atenção de alguns pregadores, principalmente os da prosperidade, é que esta luta de Jacó se dá numa categoria bem diferente do usual. Nem quero aqui citar as linhas de interpretações judaicas que divergem sobre quem era o “homem” com quem ele lutou. Vou direto para o profeta Oséias que informa que Jacó “No ventre da mãe segurou o calcanhar de seu irmão; como homem lutou com Deus. Ele lutou com o anjo e saiu vencedor; chorou e implorou o seu favor” (12:3-4). Jacó em prantos, arrebentado implora o favor - busca a charis divina - palavra que indica o favor e a beleza de Deus para com o mundo. Uma ousadia bem diferente.
Mas temos ainda outros personagens que me parece, estabelecerem o paradigma da luta com Deus.
O primeiro que destaco na ordem cronológica é Abraão. Lutou com Deus em favor de Sodoma e Gomorra. Ele não queria ver uma cidade destruída e não acreditava ser possível não haver gente “boa” o suficiente para manter a cidade em pé e Deus não agir com justiça.
Outra pessoa foi Moisés. Ele lutou em favor do povo que saiu do Egito e não iria conseguir chegar em Canaã pela dureza de coração. Ele não poderia permitir que o grande projeto falhasse. Mesmo diante da infidelidade do povo, ele lutou insistentemente com Deus, chegando a uma ousadia sem precedentes ao dizer para Deus arrepender-se do mal (Ex 32:12).
A história destes homens Abraão, Moisés e Jacó revela algumas coisas intrigantes.
Jacó saiu vencedor?
Sim em questão de fé. Não em questão de sucesso e realização de desejos. Jacó passou a maioria dos seus anos depois desta luta em tristezas de morte. Perdera o seu filho amado José, passou fome e morreu em terra estranha.
Abraão intercedeu por Sodoma, mas ela foi destruída. Uma maneira que se usa para tentar provar que foi vencedor é dizer que sua intenção era apenas com sua família. É a mesma coisa que dizer que Abraão, um pai da fé egoísta, estava pensando em si mesmo. Ele não conseguiu poupar a cidade e morreu em terra estranha e sem herdar um espaço do tamanho do pé. (At 7:5)
Resta-nos Moisés, cuja principal luta na qual gastou sua vida, foi para o povo chegar à Canaã. Exceto Josué e Calebe nem mesmo ele entrou na terra prometida, todos morreram. Mas no caso dele é mais grave ainda, porque lhe é mostrado o lugar que depois de todo o esforço e grande luta com Deus, não conquistou.
Diríamos que suas lutas foram em vão por não terem sido bem sucedidos?
Não! Diria que eles foram heróis da fé porque foram fiéis.
“Todos estes viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe e de longe o saudaram”. – Hb 11:13
“Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido”. – Hb 11:39
Um herói da fé não é aquele que consegue resultados, ou que Deus como um gênio da lâmpada satisfaça seus desejos. Não é aquele que consegue tudo o que intenta. Herói na fé é aquele que tudo falhando e lutando com Deus, ainda assim faz a mesma coisa que o Deus que ele crê faria: dá sua vida para que outros, mesmo indignos vivam.
Quando aquilo que está acontecendo na história parece ser da vontade de Deus, mas é um atentado contra a vida, é um grande mal contra o ser humano, o herói da fé é contra, mesmo que todos digam e todas as pistas apontem, ser aquilo da vontade de Deus.
Portanto, o herói da fé não mata em nome de Deus, prefere morrer. O herói da fé revê seus ideais catastróficos do fim dos tempos que imagina que quanto pior melhor. Que se o mundo estiver se acabando, pessoas estiverem morrendo aos milhões de pragas, pestes e catástrofes, que quanto mais desastres e mortandade acontecerem mais provas de que Deus está próximo (?).
Para o herói na fé a morte presente é sinal de que Deus está distante, porque o Deus cristão é a ressurreição e a vida e não se manifesta entre os homens para roubar, matar e destruir, mas seu espírito é de salvação (o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los - Lc 9:54).
Porque quanto mais próximo de Deus, mais vida e não morte.
Mesmo que esteja escrito no Apocalipse, o herói da fé cristão, que tem os mesmos desejos e projetos de Jesus diz:
- Não concordo! Sou contra guerra, destruição e morte, pois represento um reino que é de Cristo, a Vida.
A paz a todos!
ResponderExcluirRealmente, temos em Moisés um grande exemplo de fé e "luta" com Deus. O mais lindo, em minha opinião é que ele não lutou por causa prórpia (como faz hoje o evangelho brasileiro), mas ele contendeu com Deus em favor de muitos. O que invariavelmente é uma prefiguração ao ministério de Cristo.
Lindo texto Pr. Eliel, que Deus continue usando a sua vida.
Aproveito para deixar também o endereço do meu blog: Refletindo a Graça
Um forte abraço,
Vinicius
teologia pra mim é a arte de se iludir e iludir os outros covardes que tem medo da realidade
ResponderExcluirCaro Thiago, obrigado pelo sua visita.
ResponderExcluirPena que falamos da realidade de forma diferente, mas ainda bem que de qualquer forma você tem sua autenticidade em opinar.
Penso que como qualquer "ciência", ela por si só nada altera, mas quando nas mão das pessoas, são usadas conforme o caráter de quem dela faz uso.