Quem Não For Idólatra, Atire A Primeira Pedra




Ninguém está completamente convertido dos falsos deuses ao Deus verdadeiro. Todos ainda estamos atendendo diariamente ao chamado profético: - “convertam-se a Deus”.

A história Bíblica não só propõe, mas aposta que o Deus revelado em sua mensagem, apesar de estar muito além das palavras, descrições e imaginação humana, pode ser experimentado. É o Deus experiencial que desde sempre interage com o ser humano, não sob seu comando, mas numa relação íntegra, verdadeira e livre.
Ninguém teria capacidade de criá-lo, pois ele escapa das possibilidades humanas. Nem tampouco moldá-lo, pois está para além de definições. Não é possível dar-lhe um nome pois não cabe em palavras. É livre e poderoso, mas se amarrou à história humana.

Existe um conflito entre Deus não ser como se imagina e a necessidade humana de ter pelo menos uma idéia para se relacionar. Não falamos de um relacionamento com o vazio, mas com uma pessoa.
Inicia-se aqui a difícil tarefa da conversão dos diversos deuses - fruto da imaginação humana, para o Único Deus – para além de toda criação.
Lutamos entre a insegurança de adorar um Deus inimaginável, e a segurança de adorar um deus correspondente à imaginação humana.

Adorar ao Deus que é, ou ao deus que se pensa?
Deus só é conhecido por interpretação, mas toda interpretação do Deus incriado formula uma imagem que por definição falha.
Se tudo o que temos de Deus são imagens e toda imagem de Deus é idolatria, inseguros perguntamo-nos, se adorar o deus de nossa interpretação é adorar o Deus verdadeiro?!

Reconhecendo isto passei a propor a mim mesmo algumas coisas:

Não posso defender que o Deus da minha interpretação seja de fato o Deus verdadeiro.
Isto gera o sectarismo, dogmatismo e fundamentalismo religioso. Na prática o resultado final desta afirmação, apesar de expressar piedade e conversão completa, torna-se naquilo que é altamente condenado nas escrituras como adoração falsa a um falso deus. (Is 1 e 58)

Não posso dizer que o Deus da minha interpretação seja falso.
Assumir de fato que tudo o que consegui compreender de Deus são idolatrias, beira o panteismo e inviabiliza um relacionamento real com Deus, além de confessar com isto, que não reconheço o Deus verdadeiro. Afirmaria a vida de fé como falsa.

Não posso dizer que todas as interpretações são verdadeiras.
Diante de tantas interpretações e muitas delas contraditórias, jamais saberíamos o que dizer de Deus, e nem tampouco poderíamos nos distinguir numa relação com Ele e com a nossa missão.

Como resolver o drama?
Somente pela fé e tento a solução da seguinte maneira:
Como um um bom começo me dispus a não ter um Deus completamente definido, captado pelos estudos e investigações. Admiti que a teologia é provisória e sempre aperfeiçoando. - Deus não é o que a doutrina diz, está para além das definições.

Depois abri mão de querer servir às minhas projeções como a um Deus. - Deus não é quem eu gostaria que ele fosse.

E como terceiro passo, me propus não servir a Deus por me maravilhar por sua capacidade ou estado de superação humana. - Deus não é um homem com um plus do impossível.
Servir a um Deus, somente porque ele é um ser maior, considero pequeno e acredito ser um dos aspectos condenados pelo primeiro e segundo mandamento.
O devoto ao imaginar um Deus maior do que a si, como a um super homem, o reduz a uma obra-prima, por isso com prazer o cultua, pois satisfaz a si mesmo superando-o.


Ao compreender a Bíblia como Palavra de Deus em palavras humanas, percebi para os nossos dias que a Bíblia faz referência a dois tipos de deuses:

1- Um Deus esculpido em definições, defendido em tese.
Por ser obra-prima humana, como toda arte, é intocável. Assim como as belas artes estão blindadas nos museus, este Deus está super protegido por uma excelente doutrina. Seus criadores não admitem sua destruição. Para preservá-lo em sua posição de superação o homem é capaz de destruir, matar e cometer as loucuras que a história das religiões revelam.
Este deus imaginado pelos mais laborosos estudos, idéias e filosofias e dotado da função de realizar os impossiveis humanos é passível de ser acusado como fruto das projeções humanas. É o super homem, que responde a tudo o que não se consegue explicar, e realiza tudo o que os homens não são capazes. Ele se torna a resposta para os medos de viver a vida.
Para deixá-lo na categoria de Deus damos lhe diversos nomes como por exemplo médico dos médicos.
A respeito deste Deus não se admite dizer algo diferente do que se imaginou para ele.
Aquele que deseja servir a este Deus, não pode conversar com um ateu, pois existe grande possibilidade de tornar-se incrédulo.
Que tipo de deus pode ser destruído quando se pensa?
Um deus pequeno demais que não se sustenta fora da doutrina que fizemos para ele, não é digno de ser adorado.

2- Um Deus percebido na história e experimentado na vida.
Outro Deus é aquele que sem aspirações de superação, se apresenta em uma linguagem e simplicidade tal que muitos o recusam. Um Deus que interage. Chora com os que choram, se insere na criação e no tempo, não se apresenta dentro das imagens de superação humana. Um Deus desprotegido da doutrina e que defendê-lo na linguagem de Paulo é vergonhoso, mas não se deve envergonhar, pois Ele é.
Este Deus não faz questão de se apresentar como tal. Não realiza atos sobrenaturais que comprovem sua superioridade. Prefere se fazer presente na criação e até mesmo servi-la.
Detém-se em diálogos pouco convencionais, toca pessoas na dimensão em que elas se encontram. Não exige, mas se dá.
O seu “sobrenatural” é no mínimo constrangedor: ouve quem não fala, fala a quem não ouve, se mostra para quem não consegue ver, toca quem não sente, caminha com quem não anda, dorme com os insones e ama quem peca.
Este Deus se revela Santo e demonstra isto no meio do pecado. Não se mantém distante no trono, se faz povo. Um Deus que qualquer homem pode superar, mas apesar de sua fragilidade ninguém jamais o superou.

Quando olhamos para Jesus de Nazaré, o carpinteiro, constatamos que jamais alguém construiria um Deus tão pequeno, mas ele de fato é a exata expressão do Pai.




Eliel Batista

Comentários

  1. Olá, Eliel muito bela a sua descrição de Deus, só é possível fazê-la quando há uma conexão real com Ele, que é a expressão do dom mais excelente; Dom este que não há Ser capaz de destruí-lo. O amor que só pode ser visto com o coração.

    By Marcia

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  2. Anônimo2:53 PM

    Muito bom texto Eliel, também concordo com seus pensamentos. Infelizmente, os "evangélicos" têm uma visão de um "deus" helenizado, um super-homem, todo-poderoso, porém, o Deus revelado em Cristo, se fragilizou, teve fome e sede. Na verdade o que os “evangélicos” querem é o Cristo Leão de Judá revelado no apocalipse, porém, o Jesus que temos que seguir e dar continuidade em seu ministério, é o da palestina, que esvaziou-se, cordeiro de Deus, veio para servir e não para ser servido. Mas o povo quer ser servido, e não servir.

    O grande problema da teologia sistemática, no meu ponto de vista, é que ela está fundamentada na filosofia grega. E sabemos que isso de fato é um problema, pois segundo afirma o Apóstolo Paulo que......”os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1 Co 1 v 22-23)
    De fato Eliel, o seu texto é “loucura”..............Porque, como disse Paul Tilich: “Deus está para além de deus”. Portanto, o conceito verdadeiro de Deus, está não em idéias abstratas, mas em uma pessoa.........Jesus Cristo, homem.

    Por: Marcio Alves

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  3. Anônimo9:16 PM

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