IGREJA PARA HOJE

A Igreja é formada por pessoas comuns. Esta é a "loucura"do Reino de Deus!

Ser uma comunidade em que cada fiel coopere com a vida dos outros com seu dom para o bem comum, num mundo extremamente individualista, faz com que pessoas se destaquem como extraordinárias. Neste sentido, a existência de líderes com a habilidade de contemplar o simples e tornar a igreja um espaço para o comum sem a pretensão de sucesso, tem se tornado cada vez mais uma necessidade a ser suprida.

A sobrevivência institucional da Igreja hoje está dependendo muito desta habilidade de seus líderes, principalmente em um país como o nosso em que a população se sente massacrada e saqueada por suas instituições.

A Igreja precisa se analisar e se readequar para que sua essência floresça: ser um corpo dinâmico e ativo na história, a partir de membros engajados com sua causa.

COMO A IGREJA, ENQUANTO INSTITUIÇÃO, PODE FORTALECER-SE?

 - A Igreja precisa de constantes reformas.

Aqueles paradigmas que se arrastam pelo tempo, aos quais se exige que as pessoas os aceitem para que se configure uma Igreja, precisam ser abandonados e, hoje, ela precisa provocar mudanças nas estruturas teológicas e principalmente os modos relacionais. Ela não pode considerar-se detentora da verdade e de um projeto perfeito, no qual todos se sujeitem. A verdade não pode ser uma ditadura e a igreja não pode achar que sabe o suficiente para a vida das pessoas e tem todas as respostas. Deve sempre estar em busca, nunca chegar a um patamar de conclusão de si mesmo. A Igreja, enquanto corpo de Cristo, é e sempre será um corpo em desenvolvimento.

Em função disto, a meu ver ela precisa se mobilizar pelos seguintes fatores:

- Mudar sua compreensão pedagógica.

A Igreja, apesar de ser testemunha da verdade, não detém todo o saber, por isso não pode arrogar-se o direito de ser uma instituição que ensina, mas humildemente colocar-se como um organismo discípulo, quer dizer, sempre aprendendo.

Uma instituição que se coloca na condição sempre de ensino, pressupõe possuir todos os conteúdos pelos quais seus membros devem viver e trilhar. O problema é que normalmente os conteúdos são fixistas e a vida não. Em um dado momento, aqueles conteúdos, ainda que tenham sido considerados geniais, também perdem sua utilidade. Para nada mais servirão a não ser compor uma estante empoeirada de gabinetes pastorais.

A vida é a matéria-prima de uma Igreja. As pessoas são os livros teológicos, por isso aquilo que acontece com a vida de seus membros ensina-la-á quanto ao que deve colocar em seu ensino. Jesus disse que poderíamos aprender com os filhos das trevas, com o mordomo infiel, e o sábio da antiguidade nos alerta que podemos aprender até com as formigas, abelhas e aranhas. Discípulo de Cristo implica em discípulo ad aeternum.

A Igreja não deve mais se comportar como um projeto já concluído ao qual se conduz as pessoas a aderi-lo, mas deve a partir das próprias pessoas, em seu lugar, construir um projeto. Se a Igreja não for construída coletivamente, com uma identidade local própria e em constante diálogo, produzirá alienação de seus membros e dependência infantil

- A igreja precisa focar seu objetivo na busca pela autonomia das pessoas.

A Nova Aliança proclama que as pessoas têm a verdade de Deus em seus corações. Cada um pode saber o que precisa fazer e ser. A Igreja deve então, se somar ao Espírito Santo confiando de que Ele de fato escreveu a Lei Áurea nos corações das pessoas e portanto elas podem amadurecer e serem autônomas.
Não temos problema em conhecer o que é certo e errado, bom e ruim, todas as pessoas sabem. O problema está na autonomia, isto é, colocarmos em prática aquilo que sabemos.

- A igreja deve reconhecer as diversidades e diferenças.

Existem diferenças conceituais, e modelos mentais que originam as diferentes interpretações da vida e fazem da vida o que ela é: diversa e complexa. A vida não se resume em escolher a alternativa correta entre duas opções.
A Igreja não pode se colocar como dona da verdade e única opção entre tantas coisas no mundo. O dualismo inibe a possibilidade de lidar com a vida com beleza e maturidade.

- Ser transparente quanto às suas realizações.

A Igreja precisa saber deixar claro o que está fazendo, pensando e objetivando enquanto igreja.
Deixar claro seu objetivo e os valores que a norteiam, desenvolvendo e estimulando cada vez mais a comunhão e as realizações conjuntas. Esta é a principal ferramenta do Evangelho - não deixar ninguém escravo de ninguém, mas livres.

- Ser crítica de si mesma a partir do todo.

A autocrítica é muito volúvel ao grau de autoestima, por isso ser uma Igreja crítica significa aprender a ouvir a partir de onde a vida acontece.

Exemplo: A igreja ser motivo de piadas e chacotas por pessoas de fora é um fator norteador para uma crítica de si mesmo. Se numa sociedade, as pessoas ao lidarem com a vida, veem a necessidade da igreja como irrelevante, ou a última opção dentre muitas alternativas, este é um fator a ser considerado para criticar a si mesma a partir do todo. Mas se a autoestima for superestimada, essas vozes não serão ouvidas e quem as apresenta enfrentará resistência, será tratado com descaso, o que inibe a capacidade crítica.

- Verificar sua dinâmica de relacionamentos

As relações que mobilizam a igreja devem ser por influência (relações de amor) e não por hierarquia quer de cargo, função ou de saber. Para isso se requer transparência, honestidade, abertura de mente, confiança, bom senso e principalmente humildade. 
No máximo a hierarquia deve ser utilizada para distribuir responsabilidades e não separar ou discriminar pessoas. O uso do poder para conduzir processos, sempre implica a anulação do outro. A hierarquia de poder desequilibra as relações e como Igreja, "todos somos um", isto é, as relações são equilibradas.

- Pronta para ouvir e tardia para falar.

Precisa ouvir seus membros para saber se, como igreja, está fazendo diferença na vida das pessoas. Esta é a retroalimentação da igreja. Sem isto, ela não justifica sua própria existência.

A igreja do século XXI se dispõe a aproveitar a inteligência, o conhecimento de seus membros para a construção de uma identidade pertinente ao lugar onde está inserida. Ela respeita a vida e concilia-a com os anseios e necessidades existenciais de cada um. Deve ser conciliadora entre o bem comum e os interesses individuais. Ela não decreta a verdade, produz. Não exige submissão aos conteúdos, ela dialoga, convence.

A igreja para hoje, deve penetrar na realidade humana viva e a partir dali ver como o evangelho se aplica.

Uma igreja que ouve os anelos de seus membros, pode melhor atender seus anseios e ajudá-los a superar seus problemas e com isto elevar o grau de satisfação com a própria igreja.
Quando falo em ouvir seus membros, alguns logo pensam em assembleias, votos e coisas semelhantes. Ouvir, não é um método ou uma técnica, mas um acolhimento da realidade. Compreender e estar inserida nos dilemas, nas lutas e nas alegrias são características deste ouvir. Ouvir quais são os enfrentamentos cotidianos do povo e quais as ferramentas disponíveis para lidar com tais desafios.

Enfim, estas questões fazem muito sentido, para a minha visão de mundo.
Se são possíveis, praticáveis ou devaneios, saberemos um dia.

Eliel Batista.

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