DESABAFO DE UM PASTOR BRASILEIRO CANSADO.
Sempre fui uma pessoa cheia de esperanças.
Sem falsa modéstia tenho boa resiliência. Já enfrentei situações das mais diversas, mas pela primeira vez sou tomado por um desânimo assustador.
Confesso que hoje sou tomado por sentimentos que considero ruins.
Sinto vontade de me desligar da minha terra, do meu povo e do meu lugar. Me sinto expatriado, não por mim mesmo.
Querer e trabalhar pelo bem parece não serem suficientes.
Como penso que o bem pode ser feito de outras formas, por outras vias e por concepções diferentes das usuais de boa parte dos compatriotas, sou expulso da minha brasilidade. Abrem a porta e dizem para eu ir morar em outro lugar.
Não sou reconhecido como brasileiro.
Questionam meus interesses, minha nacionalidade, meu patriotismo, minha cidadania e minha sanidade mental para afirmarem que não sou bem vindo.
Não tenho sido bem vindo entre muitos irmãos e irmãs de fé.
Não me consideram um cristão porque divirjo de alguns pensamentos. Compreendo igual a maioria dos crentes que o Evangelho estar acima de qualquer partidarismo implica em denunciar o errado e a injustiça mesmo que contrarie nossos desejos, nossas paixões e nossos interesses políticos, mas mesmo crendo como a maioria, porque não me enquadro na forma de expressar que esses padronizaram como única e correta, como não leio na cartilha de alguns não posso ser considerado cidadão do Reino dos Céus.
Também não tenho sido bem vindo entre alguns da minha classe social porque sou visto como traidor dela, afinal como eu um classe média que já fui proprietário de empresas, administrei indústria, frequentei lugares vip's, privilegiado com boa formação, com carro e imóvel próprios desde os 20 anos de idade posso dizer que o sistema está errado?
Como poderia afirmar que estou do lado do pobre e falar contra a nossa classe? Isso na cabeça de alguns da minha classe, soa como acusação de que elas seriam más e contra os pobres.
Jamais eu deveria ousar fazer essas denúncias infundadas contra minha própria classe, sendo que ela se preocupa sim com os pobres. Ela doa cestas básicas, leva sopa e cobertor no inverno para moradores de rua, faz doações para ONGs de ajuda humanitária e sustenta muita gente dando emprego, paga os impostos que possibilita ao Estado sustentar o povo e muito mais. É um absurdo acusar meus pares.
Mas penso diferente.
Eu compreendo que estão correndo atrás de estabilidade num país tão instável.
Desejam apenas um lugar ao sol para si e sua família e nessa busca, às vezes sem se darem conta, se amoldaram tanto ao sistema que acusar esse sistema significa ofendê-los, por isso, querem me expulsar da classe.
Como não encontram nenhuma maldade objetiva, não posso ser considerado um criminoso; sou um mero "traidor" que provoca, desestabiliza e fere algumas suscetibilidades.
Como não encontram nenhuma maldade objetiva, não posso ser considerado um criminoso; sou um mero "traidor" que provoca, desestabiliza e fere algumas suscetibilidades.
Não podem me expulsar do país, se sentem mal de me expulsarem de suas vidas, mas podem deixar implícita a ameaça da perda dos “direitos” de ser considerado irmão ou amigo.
Sei que é uma tarefa difícil contrariar o próprio status quo, mas sim, nessa classe majoritariamente, se você doa uma cesta básica ou “dá" um emprego você é humanitário e caridoso, mas se você quer tirar a pessoa da pobreza você é um comunista, antipatriota, contra Deus e nem imagino quais coisas mais para que seja comprovado que sou para a classe um pária e, portanto, preciso ou me calar ou renunciar.
Cansei.
Cansei de lutar contra um sistema que não admite e não acolhe as diferenças como se Deus não tivesse anunciado em Cristo Jesus que não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos somos um.
Cansei de ter que ficar dando satisfação da minha fé cristã quando o sistema evangélico não admite que está corrompido e não tem mais salvado ninguém, exceto feito a manutenção dos privilégios para alguns poucos e deixado outros tantos em uma condição lastimável. De não fazerem questão de diferenciarem conveniência de conversão.
Estou tomado de um desânimo ao ver que depois de tantas lutas, ainda há oprimidos defendendo os opressores e se opondo a quem quer mudar esse sistema.
Cansei de tentar explicar que esquerda e direita não tem nada a ver com Deus, mas sim os atos, estes sim, são os frutos que expressam quem está contra ou a favor de Deus.
Cansei de tentar convencer meus irmãos e irmãs que Deus não é evangélico, aliás não tem religião. Que Deus não é de esquerda e nem de direita, também não é de centro. Deus é amor.
Sou brasileiro tão enraizado que nunca sonhei nem mesmo em viajar para outros países. Nem passaporte tenho. Como minha terra, minha gente e meu cantinho sempre me bastaram acabei não tendo esse tipo de sonho.
Por esta razão não vou embora. Não faz meu tipo.
Não desisto da fé porque sei em quem tenho crido.
Não mudo a rota porque me esforço para ser coerente com o que creio e para viver em paz com minha consciência.
Mas só o fato de todos esses sentimentos e sensações estarem presentes em mim, me indicam que a realidade tem sido cruel e eu apenas um “cão morto” sendo caçado - para usar uma expressão bíblica.
Deste cansaço e dada minha resiliência, concluo que não sirvo para ser pastor para pessoas assim. Para essas serei profeta e estes historicamente nunca foram bem recebidos.
Pastor eu serei para aqueles que têm fome e sede de justiça.
Pastor eu serei para aqueles que têm fome e sede de justiça.
Que Deus tenha misericórdia de nós.
Infelizmente!!! Serão dias trabalhosos para nossos pastores!!! Eliel,mas vale apena pregar o amor de Deus!!!
ResponderExcluirCerteza, Vale a pena
ExcluirUm abraço!!! Pastor Eliel,Deus é contigo!!!
ResponderExcluirAmém
ExcluirMeu Deus! Pr. Eliel, saiba que, embora bem poucos, há pessoas que compartilha desse mesmo cansaço que lhe abate. Me emocionou sua, desculpa, súplica! Que Deus nos ajude!
ResponderExcluirGrato. Amém
ExcluirMuito dificil, complicado tem sido lhe far com uma geração inde o egocentrismo e a razão tem que estar acima de tudo. Nessas horas, onde a desumanidade aflora aos poros, onde todos os dias somos açoitados por aqueles que deveriam nos amparar, penso mais forte que não pertenço a essa terra, onde os dias são maus, as pessoas estão doentes. Estou quase que desacreditada. Mas ainda creio. Tenho saudades de Sião, mas farei o que a mim é designado, sabendo que não salvaremos o mundo, não conveceremos multidões, mas posso sentir paz em fazer pelo tanto que cabe em minhas mãos. Então, descansa pastor. É tempo de se retirar, refletir, orar e estar junto daqueles que estão contigo. Só assim acharás força para prosseguir.
ResponderExcluirUm abraço.
Pastor, suas palavras representam bem o cansaço que muitos vivemos. Ainda ontem dizia a uma amiga querida e cristã e "patriota": Quando olho para Jesus, imagino que nos dias de hoje ele seria chamado de comunista e possivelmente seria crucificado por muitos cristãos...
ResponderExcluirAinda que se canse, seja resiliente! Renove suas forças Naquele que primeiro nos amou. Continue sendo profeta e Pastor, onde puderes Ser! E que Deus nos abençoe!
grato e amém
ExcluirDeus te abecoi eliel
ResponderExcluiramém
ExcluirMeu caro Eliel, suas queixas, seu desabafo, suas intuições, são nada mais ou nada menos do que a dura realidade que estamos vivendo. Comungo com vc e oro a Deus que nos permita exercer paciência, pra podermos adquirir sabedoria num momento tão complicado. Força Eliel..
ResponderExcluirDisse Agostinho:
"Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência".
Sigamos em frente. Deus é por nós.
ExcluirAcho que você não está sozinho. A Igreja também começou assim, caçada, cuspida e escarrada, e nunca conseguiu ser diferente sem trair àquilo que se propôs fazer.
ResponderExcluirSigamos juntos.
ExcluirLembrei-me de Elias que se sentia só naquele momento pós-batalha e Deus falou que havia mais sete mil que não tinham se dobrado a Baal. Não estás sozinho, pastor. Compartilho do mesmo sentimento! Deus o abençoe!
ResponderExcluirQue tempo são esses, pastor?!
ResponderExcluirO seu desabafo ganha voz no coração de tantos que pensam como ti e sentem cansados, exaustos, excluidos e prestes a desistir.
Sua voz nos esperança e jos dão a certeza que não estamos sozinhos.
Força e fé que a nossa luta e resistência restaurará um tempo de delicadezas.
Li seu texto ao acaso e admiro sua consciência. Sou espírita, pq acredito no Deus de amor, acredito que essa escola "vida" a que estamos é onde devemos estar para evoluir, infelizmente a humanidade busca a Deus através de um líder, nunca o buscaram dentro de si. Então, buscam em templos, em líderes e se escondem atrás da Bíblia. Sou estudiosa das religiões, desse estudo concluo que deturparam as palavras de Jesus, visando angariar riquezas em seu nome, virou um comércio sujo de compras celestiais. Não somos dizimistas, o dízimo não é divino o dízimo é do homem, se o dízimo fosse mesmo devido Deus o colocaria nos mandamentos. O templo de Deus é a própria criatura, mas que desprovida de raciocínio próprio se omite em amar ao próximo como a si mesmo! Jesus em momento algum falou em religião em seguir a líder algum, pediu aos discípulos que levassem a boa nova, e tudo foi feito conforme o livre arbítrio de cada um, cada qual deturpou a mensagem como melhor lhe convinha. Todos nós somos filhos do mesmo pai, seremos escolhidos independente de religião e sim pelas ações realizadas dentro do amor e da caridade. Que Deus e nosso Mestre Jesus abençoe sua vida e abrande seu coração.
ResponderExcluirFui exposto ao pastorado muito jovem. E hoje compartilho da grande maioria dos seus pensamentos, amado pastor.
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